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ARQUIVO DISTRITAL DO PORTO - CONVENTO SÃO BENTO VITORIA

PORTO     ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO

A Ordem Beneditina constituiu o corpo central da Igreja em Portugal, nesta época que medeia entre o Renascimento e o século XVIII. Não é por acaso que o Cardeal D. Henrique, quando entregou o País aos Espanhóis, impôs a mudança da sua sede de Tibães para Lisboa, para S. Bento, onde hoje é a Assembleia da República, e sacrificou o seu património para financiar a Ordem dos Jesuítas. Esse convento foi desenhado dentro de um rigoroso maneirismo contra-reformista, em tudo seguindo as linhas pesadas e austeras do Escorial. Passadas algumas décadas, os Beneditinos mudaram a sua sede para o Porto, para S. Bento da Vitória. Note-se que construíram este impressionante edifício nos terrenos da antiga judiaria. Eram tempos de expulsão e perseguição aos Judeus. A imponente Igreja de S. Bento foi implantada nesta colina por oposição e afrontamento à colina da Sé, onde estava já o Paço do Bispo e a Igreja dos Grilos (Jesuítas, é claro, junto ao Poder). À última da hora, já no início das obras, os Beneditinos decidiram voltar a igreja ao contrário, com o altar para o lado poente e com a fachada voltada para o burgo do Porto, fazendo 

frente ao Bispo e aos Jesuítas. A Ordem seguia os cânones do Renascimento, apesar dos ventos da contra-reforma apontarem já caminhos tipológicos e estéticos muito diferentes adoptados pelos Jesuítas, com as suas igrejas-salão, em que o padre já se voltava e dominava a sua assembleia, e as suas frontarias altaneiras e envidraçadas. Os Beneditinos mantêm a janela termal, evidenciando a potente abóbada de canhão na frontaria, bem como a planta em cruz latina. Os interiores são tratados como fachadas, que em tudo competem com as imponentes composições Serlianas (tratadista do Renascimento), também evidentes no Claustro Principal. Enquanto os Jesuítas já traziam as torres para a fachada, nesta igreja, as torres ainda são discretas e recuadas. Ou seja, em vez da teatralidade e espectáculo que passou a caracterizar a liturgia da contra-reforma, os Beneditinos mantêm-se conservadores. Nada por acaso, a Ordem era constituída por homens recrutados na pequena nobreza e na burguesia, ou seja, no tecido base da nacionalidade. Também não é por acaso que esta Ordem tomou activamente partido pela independência em 1640. 

Os Beneditinos acabam por voltar a colocar a sua sede em Tibães, junto a Braga. É notável como a sua história evidencia uma tão grande ligação à política do seu tempo e aos desígnios desta Nação. Ainda hoje existem arquétipos em que se fundou este País. A história não se repete exactamente, mas não há dúvida que muitos aspectos continuam sempre presentes. O movimento Iberista protagonizado pelo Cardeal D. Henrique exigiu a submissão dos Beneditinos e, claro, do corpo central da sociedade Portuguesa. Também é claro que o movimento autonomista teve a mais forte expressão a Norte, por razões que se prendem com essa mesma história, a tempos que remontam aos inícios da Nacionalidade, aos Suevos ou mesmo à Galécia e Lusitânia. Hoje, como antes, muita história e muito da nossa identidade Regional e Local passa por estas paredes de granito.

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